24.1.07

Vôo 93
[ou eles pelo menos escolheram o café da manhã e não comeram maxi-goiabinha]


Muito provavelmente Paul Greengrass não vai ganhar o Oscar de Melhor Direção, nem Vôo 93 vai ganhar o Oscar de Melhor Edição, o que implica em que não deve levar nenhum Oscar já que foi indicado só para essas duas "estatuetas"" (detesto falar estatuetas). Mas a direção do Greengrass (engraçado o cara se chamar grama verde) é talvez a coisa mais interessante do filme. Por ir nos levando de uma tranquila e comum e calma e quase desprezível manhã de 11 de setembro para uma sequência de surpresas e tensões que termina de forma abrupta, tão abrupta quanto pode ser a queda de um avião e o fim da vida de seus passageiros.
Vôo 93 não tem tomadas abertas, nem longas, nem trilhas melosas. É 99,9% feito dentro de ambientes fechados, claustrofóbicos. Não custa lembrar que fala do dia dos passageiros e dos controladores de vôo, ou seja, de gente que estava trancafiada enquanto o mundo ou, pelo menos, o WTC caía lá fora. Assim, a direção e a edição foram extremamente competentes pelo ambiente, digamos, inóspito. Se não valem o Oscar, valem, com mérito, as indicações.
Engraçado que em Vôo 93 a gente vai torcendo pelos passageiros. O que, na prática, pode ser comparado a torcer por Gana na Copa do Mundo. Ou seja, todo mundo sabe o final mas torce mesmo assim. Não percebi grandes arroubos ufanistas dos donos do mundo, inclusive não me lembro de ter visto a bandeira americana em nenhuma cena. Claro, não deixa de ter lá seu cunho político, afinal dá aqui e ali uma espetadela na incompetência ou despreparo da super potência que levou séculos para perceber o que estava acontecendo e reagir de alguma maneira. Na cara e no silêncio de todos no momento em que o segundo avião bate no World Trade Center, ao vivo pela CNN, a gente percebe o quanto tudo foi surpreendente e, de certa forma, entende tanta confusão.
Gosto também da forma como foram retratados os terroristas, com dúvidas, medos e uma dosezinha de insegurança. Não se tentou julgar nem condenar os caras, até porque seus gestos falam por eles mesmos.
A gente não sabe nem nunca vai saber exatamente o que aconteceu naquele avião. Mas Vôo 93 não deixa de ser um bom exercício, e apesar de ser inevitável que por causa dele muita gente pense que os passageiros foram grandes heróis e que chegaram a merecer um memorial que custou 1,5 milhão de dólares, doados pelos produtores do filme, a verdade é: o que os passageiros fizeram, depois de superarem o pavor e descobrirem que os terroristas tinham uma bomba falsa e uma faquinha de plástico, foi tentar tirar o deles da reta. Como deveria ser, mesmo.
Ou você, lá dentro, ia pensar em outra coisa?

Ficha Técnica
Título Original: United 93
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 111 minutos
Ano de Lançamento (EUA / Inglaterra / França): 2006
Site Oficial: www.united93movie.com
Estúdio: Universal Pictures / Working Title Films / Studio Canal / Sidney Kimmel Entertainment
Distribuição: Universal Pictures / UIP / Buena Vista International
Direção: Paul Greengrass
Roteiro: Paul Greengrass
Produção: Tim Bevan, Eric Fellner e Lloyd Levin
Música: John Powell
Fotografia: Barry Ackroyd
Desenho de Produção: Dominic Watkins
Direção de Arte: Romek Delmata e Joanna Foley
Figurino: Dinah Collin
Edição: Clare Douglas, Richard Pearson e Christopher Rouse
Efeitos Especiais: Baseblack / Cine Image Film Opticals Ltda. / Machine / The Senate Visual Effects Limited / Lip Sync Post

Elenco
Christian Clemenson (Thomas E. Burnett Jr.)
Trish Gates (Sandra Bradshaw)
Polly Adams (Deborah Welsh)
Cheyenne Jackson (Mark Bingham)
Opal Alladin (CeeCee Lyles)
Gary Commock (Oficial LeRoy Homer)
Nancy McDoniel (Lorraine G. Bay)
David Alan Basche (Todd Beamer)
Richard Bekins (William Joseph Cashman)
Susan Blommaert (Jane Folger)
Ray Charleson (Joseph DeLuca)
Liza Colón-Zayas (Waleska Martinez)
Lorna Dallas (Linda Gronlund)
Denny Dillon (Colleen Fraser)
Triestre Kelly Dunn (Deora Frances Bodley)
Kate Jennings Grant (Lauren Catuzzi Grandcolas)
Peter Hermann (Jeremy Glick)
Tara Hugo (Kristin White Gould)
Marceline Hugot (Georgine Rose Corrigan)
Starla Benford (Wanda Anita Green)
Joe Jamrog (John Talignani)
Corey Johnson (Lous J. Nacke, II)
Masato Kamo (Toshiya Kuge)
Becky London (Jean Headley Peterson)
Tom O'Rourke (Donald Peterson)
Simon Poland (Alan Anthony Beaven)
Lewis Alsamari (Saeed Al Ghamdi)
Omar Berdouni (Ahmed Al Haznawi)
Jamie Harding (Ahmed Al Nami)
O Cavaleiro Didi e a Princesa Lili
[ou bomba, bomba, bomba!]



Olha, desculpe aí...
Vamos desconsiderar a cena onde o rei da Landnóvia morre três ou quatro vezes e consegue arrancar um sorriso pela boa piada e os velhos trejeitos de Renato Aragão, melhor amigo e cavalariço do tal rei. Não que seja muito divertido, mas é, certamente,o único momento do filme onde se percebe o mínimo de inteligência e capacidade de fazer rir e, com um pouco de boa vontade e lembranças de infância (bem infância) de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, é possivel dar um sorriso, amarelo e disfarçado.
O resto, todo o resto, incluindo as interpretações, os cenários, o moralismo fake, a direção, a filha do Renato Aragão, o roteiro, a edição, a trilha, o argumento, tudo, tudo, tudo, é constrangedoramente ruim.
Por favor, não venha me dizer que o filme é para crianças, e todo aquele blá blá blá. Carros também é, a Era do Gelo também é, A Fantástica Fábrica é, Cinderela também é, milhares de outros também são e até mesmo toda a vida cinematográfica de Didi e dos Trapalhões era, e eu os vi quase todos.
Alugue um Dvd dos Teletubbies que vale mais a pena.

Ficha Técnica
Título Original: O Cavaleiro Didi e a Princesa Lili
Gênero: Infantil (existe algum gênero abaixo?)
Tempo de Duração: uma eternidade
Ano de Lançamento (Brasil): 2006
Estúdio: Diler & Associados
Direção: Marcus Figueiredo (desastrosa, amadora, ridícula)
Roteiro: Renato Aragão, Paulo Cursino, Mauro Wilson e Marcus Figueiredo, baseado em estória original de Renato Aragão
Produção: Diler Trindade
Fotografia: Cézar Moraes
Desenho de Produção: Ana Schlee
Direção de Arte: Paulo Flaksman
Figurino: Maria Diaz

Elenco
Renato Aragão (Didi) (péssimo)
Lívian Taranto Aragão (Princesa Lili - criança)-(péssima x3)
Camila Rodrigues (Princesa Lili - adulta)-(ruim)
Matheus Massaafferri (Juan - criança)-(coitadinho do menino)
Guilherme Berenguer (Juan - adulto)-(ruim)
Vera Holtz (Rainha Valentina)-(ela não merecia, é tão simpática)
Werner Schünemann (Rei Lindolfo)-(ruim demais)
Eike Duarte (Galante - criança) - (péssimo e, talvez até por isso, o melhor)
Paulo Nigro (Galante - adulto)- (péssimo)
Sérgio Mamberti (Sacerdote)- (acredite, até ele está ruim)
Alexandre Zachia (Jafar)- (ridículo, mas, pelo visto, a pedidos)

23.1.07

Framboesa de Ouro

Framboesa de Ouro é um troféu dado aos piores do cinema. Um Oscar às avessas.
Sharon Stone concorre este ano, em pelo menos duas categorias.
Seu par de seios concorre na categoria "Pior Dupla Em Cena".
E ela, Sharon Stone, também é favorita ao Framboesa de Pior Atriz.
Seu filme Basic Instint 2 concorre a Pior Filme, assm como A Dama Na Água, de M. Night Shyamalan.
Entre os concorrentes a Pior Diretor: Ron Howard, de Código da Vinci, Shyamalan, por A Dama na Água e, claro, Michael Caton Jones, por Basic Instint 2.
Veja o site aqui.

4.1.07

Cassino Royale
[ou e não é que o cara conseguiu?]


Tire todos os pés que, porventura, você esteja deixando atrás em relação ao novo Bond, James Bond.
Daniel Craig, apesar de ter mais cara de agente checheno do que de servo de Sua Majestade, é o melhor de todos os Bonds, James Bonds. Pelo menos, até que apareça o próximo. Não, não esqueci de Sean Connery. Perdoe a heresia, mas Daniel Craig, com suas orelhinhas de abano, depois de 10 minutos não nos deixa mais imaginar como seria se estivessem no lugar dele os Bonds, James Bonds anteriores. Não mesmo.
Sir Connery foi o Bond, James Bond, que fez de 007 o cara que todos nós, homens com mais de 30, pelo menos, queríamos ser. Mas olhando agora, 44 anos depois e depois de Connery, George Lazenby, Roger Moore, Timotyh Dalton e Pierce Brosnan, percebemos que os Bonds, James Bonds anteriores eram, na verdade, uns almofadinhas metrossexuais que só ganhavam as mais frívolas mulheres, andavam em carrinhos totalmente nouveau-riche e eram, convenhamos, cercados de parafernálias mais dignas do bom e velho Maxwell Smart do que um espião de verdade. Eram muito mais Chiquinhos Scarpa com um trabuco na mão do que, exatamente, agentes especiais com licença para matar.
O novo Bond, James Bond, é real. É meio feio, com um beicinho estranho. Usa smoking mas, como todo homem de verdade, não parece muito à vontade fantasiado de garçon de castelo de vampiro. É cínico na medida certa, aquele cinismo que parece não ultrapassar a linha amarela da cafajestagem. Sem caras e bocas como Roger Moore. Menos canastrão que Brosnan. E, melhor de tudo, bem próximo de nós, homens de verdade, porque faz uma ou duas belas cagadas e, depois, dá um jeito de consertar tudo. E porque Bond, James Bond, ama. E sofre. Bom, melhor nem lembrar do sofrimento imposto aos seus (dele) países baixos porque, confesso, só sofri desse jeito num filme quando vi A Paixão, de Gibson. Homens, preparem-se, porque tem uma hora lá que todos sentem a mesma dor que ele. E como dói, viu?
Vesper é a melhor de todas as Bond Girls. Apesar de uma beleza rara, é dúbia. Não se trata de joguinho “sou boa e boa/sou boa e má pra caramba”. É dúbia porque também deixa de ser só mais uma Bond Girl gostosona e, a certa altura de Cassino Royale, mostra que é mulher de verdade, e não uma deusa semipelada. Vesper, com os belos olhos de Eva Green, também sofre.
Cassino Royale tem talvez a melhor sequência de ação de todos os zerozerosetes. Logo no início. Daquelas que a gente olha, ri, torce, tem vontade de aplaudir mas fica com vergonha, diz “ah, que mentira” mas, no final, não se sente enganado. Aproveite, porque é a única sequência que, de alguma forma, remete aos Bonds, James Bonds anteriores. Porque, daí pra frente, não há mais grandes exageros. Há um bom filme. Há um muito de humanidade nele. Aliás, tão humano que, em Cassino Royale James Bond morre. Certo, certo, mas é por poucos segundos. Desculpe o anti-clímax, mas não resisti.
Ia esquecendo do vilão. Inevitável associar o nome dele, Le Chiffre, ao imaginário popular. Um bom vilão. Como todos em Cassino Royale, fraqueja e, de certa maneira, mistura maldade com covardia. Le Chiffre é um vilão covarde. Também, coitado, com esse nome, até eu. Rá, rá, rá! Hum... Certo, fim da piada.
Enfim, Cassino Royale é o renascimento de Bond, James Bond. Bem mais adaptado à nossa época, mais verossímil, mais divertido, mais macho, menos mauricinho, o Bond, James Bond de Daniel Craig deixa de ser só aquele cara que todos nós um dia, em delirius-mauricinicus, quisemos ser. E passa a ser um cara que, na verdade, todos nós somos: nem lindos nem feios, nem machos ignóbeis nem gênios arrogantes, nem cafajestes inatos nem anjos de pureza e charme. Tá certo, ele é tudo isso e ainda tem os iates, a grana, o revolvão. Mas o que ele mais queria, de verdade, “do fundo d´alma” ele perde. Não te lembra alguém?
O Bond, James Bond de Daniel Craig é tão Bond, James Bond, que nem precisa se apresentar: em nenhum momento de Cassino Royale ele diz “my name is Bond, James Bond”.
Porque ele, simplesmente, é James Bond. Não precisa convencer ninguém disso.

Ficha Técnica
Título Original: Casino Royale
Gênero: Aventura
Tempo de Duração: 144 minutos
Ano de Lançamento (EUA / Inglaterra / República Tcheca): 2006
Site Oficial: www.007cassinoroyale.com.br
Estúdio: MGM / United Artists / Danjaq / Stillking Films / Eon Productions Ltd. / Columbia Pictures
Distribuição: Sony Pictures Entertainment / Buena Vista International / MGM
Direção: Martin Campbell
Roteiro: Neal Purvis e Robert Wade, baseado em livro de Ian Fleming
Produção: Barbara Broccoli e Michael G. Wilson
Música: David Arnold
Fotografia: Phil Meheux
Desenho de Produção: Peter Lamont
Direção de Arte: Peter Francis, James Hambidge, Steven Lawrence e Dominic Masters
Figurino: Lindy Hemming
Edição: Stuart Baird
Efeitos Especiais: The Moving Picture Company

Elenco
Daniel Craig (James Bond)
Eva Green (Vesper Lynd)
Mads Mikkelsen (Le Chiffre)
Judi Dench (M)
Caterina Murino (Solange Dimitrios)
Jeffrey Wright (Felix Leiter)
Giancarlo Giannini (Rene Mathis)
Ivana Milicevic (Valenka)
Simon Abkarian (Alex Dimitrios)
Isaach De Bankolé (Steven Obanno)
Claudio Santamaria (Carlos)
Jesper Christensen (Sr. White)
Tobias Menzies (Villiers)
Clemens Schick (Kratt)
Emmanuel Avena (Leo)
Joseph Millson (Carter)
Sebastien Foucan (Mollaka)
Ludger Pistol (Mendel)
Malcolm Sinclair (Dryden)