4.1.07

Cassino Royale
[ou e não é que o cara conseguiu?]


Tire todos os pés que, porventura, você esteja deixando atrás em relação ao novo Bond, James Bond.
Daniel Craig, apesar de ter mais cara de agente checheno do que de servo de Sua Majestade, é o melhor de todos os Bonds, James Bonds. Pelo menos, até que apareça o próximo. Não, não esqueci de Sean Connery. Perdoe a heresia, mas Daniel Craig, com suas orelhinhas de abano, depois de 10 minutos não nos deixa mais imaginar como seria se estivessem no lugar dele os Bonds, James Bonds anteriores. Não mesmo.
Sir Connery foi o Bond, James Bond, que fez de 007 o cara que todos nós, homens com mais de 30, pelo menos, queríamos ser. Mas olhando agora, 44 anos depois e depois de Connery, George Lazenby, Roger Moore, Timotyh Dalton e Pierce Brosnan, percebemos que os Bonds, James Bonds anteriores eram, na verdade, uns almofadinhas metrossexuais que só ganhavam as mais frívolas mulheres, andavam em carrinhos totalmente nouveau-riche e eram, convenhamos, cercados de parafernálias mais dignas do bom e velho Maxwell Smart do que um espião de verdade. Eram muito mais Chiquinhos Scarpa com um trabuco na mão do que, exatamente, agentes especiais com licença para matar.
O novo Bond, James Bond, é real. É meio feio, com um beicinho estranho. Usa smoking mas, como todo homem de verdade, não parece muito à vontade fantasiado de garçon de castelo de vampiro. É cínico na medida certa, aquele cinismo que parece não ultrapassar a linha amarela da cafajestagem. Sem caras e bocas como Roger Moore. Menos canastrão que Brosnan. E, melhor de tudo, bem próximo de nós, homens de verdade, porque faz uma ou duas belas cagadas e, depois, dá um jeito de consertar tudo. E porque Bond, James Bond, ama. E sofre. Bom, melhor nem lembrar do sofrimento imposto aos seus (dele) países baixos porque, confesso, só sofri desse jeito num filme quando vi A Paixão, de Gibson. Homens, preparem-se, porque tem uma hora lá que todos sentem a mesma dor que ele. E como dói, viu?
Vesper é a melhor de todas as Bond Girls. Apesar de uma beleza rara, é dúbia. Não se trata de joguinho “sou boa e boa/sou boa e má pra caramba”. É dúbia porque também deixa de ser só mais uma Bond Girl gostosona e, a certa altura de Cassino Royale, mostra que é mulher de verdade, e não uma deusa semipelada. Vesper, com os belos olhos de Eva Green, também sofre.
Cassino Royale tem talvez a melhor sequência de ação de todos os zerozerosetes. Logo no início. Daquelas que a gente olha, ri, torce, tem vontade de aplaudir mas fica com vergonha, diz “ah, que mentira” mas, no final, não se sente enganado. Aproveite, porque é a única sequência que, de alguma forma, remete aos Bonds, James Bonds anteriores. Porque, daí pra frente, não há mais grandes exageros. Há um bom filme. Há um muito de humanidade nele. Aliás, tão humano que, em Cassino Royale James Bond morre. Certo, certo, mas é por poucos segundos. Desculpe o anti-clímax, mas não resisti.
Ia esquecendo do vilão. Inevitável associar o nome dele, Le Chiffre, ao imaginário popular. Um bom vilão. Como todos em Cassino Royale, fraqueja e, de certa maneira, mistura maldade com covardia. Le Chiffre é um vilão covarde. Também, coitado, com esse nome, até eu. Rá, rá, rá! Hum... Certo, fim da piada.
Enfim, Cassino Royale é o renascimento de Bond, James Bond. Bem mais adaptado à nossa época, mais verossímil, mais divertido, mais macho, menos mauricinho, o Bond, James Bond de Daniel Craig deixa de ser só aquele cara que todos nós um dia, em delirius-mauricinicus, quisemos ser. E passa a ser um cara que, na verdade, todos nós somos: nem lindos nem feios, nem machos ignóbeis nem gênios arrogantes, nem cafajestes inatos nem anjos de pureza e charme. Tá certo, ele é tudo isso e ainda tem os iates, a grana, o revolvão. Mas o que ele mais queria, de verdade, “do fundo d´alma” ele perde. Não te lembra alguém?
O Bond, James Bond de Daniel Craig é tão Bond, James Bond, que nem precisa se apresentar: em nenhum momento de Cassino Royale ele diz “my name is Bond, James Bond”.
Porque ele, simplesmente, é James Bond. Não precisa convencer ninguém disso.

Ficha Técnica
Título Original: Casino Royale
Gênero: Aventura
Tempo de Duração: 144 minutos
Ano de Lançamento (EUA / Inglaterra / República Tcheca): 2006
Site Oficial: www.007cassinoroyale.com.br
Estúdio: MGM / United Artists / Danjaq / Stillking Films / Eon Productions Ltd. / Columbia Pictures
Distribuição: Sony Pictures Entertainment / Buena Vista International / MGM
Direção: Martin Campbell
Roteiro: Neal Purvis e Robert Wade, baseado em livro de Ian Fleming
Produção: Barbara Broccoli e Michael G. Wilson
Música: David Arnold
Fotografia: Phil Meheux
Desenho de Produção: Peter Lamont
Direção de Arte: Peter Francis, James Hambidge, Steven Lawrence e Dominic Masters
Figurino: Lindy Hemming
Edição: Stuart Baird
Efeitos Especiais: The Moving Picture Company

Elenco
Daniel Craig (James Bond)
Eva Green (Vesper Lynd)
Mads Mikkelsen (Le Chiffre)
Judi Dench (M)
Caterina Murino (Solange Dimitrios)
Jeffrey Wright (Felix Leiter)
Giancarlo Giannini (Rene Mathis)
Ivana Milicevic (Valenka)
Simon Abkarian (Alex Dimitrios)
Isaach De Bankolé (Steven Obanno)
Claudio Santamaria (Carlos)
Jesper Christensen (Sr. White)
Tobias Menzies (Villiers)
Clemens Schick (Kratt)
Emmanuel Avena (Leo)
Joseph Millson (Carter)
Sebastien Foucan (Mollaka)
Ludger Pistol (Mendel)
Malcolm Sinclair (Dryden)

1 comment:

Mauro Cesar Costa said...

Da trilha sonora destaco "You Know My Name" música da semana lá no contodevista, que também cita este nobre blog.